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Arquitetos: StudioLIM
- Área: 280 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:André Mortatti
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Fabricantes: AutoDesk, Trimble Navigation
Descrição enviada pela equipe de projeto. A descrição deste projeto de reforma deve iniciar pelo próprio prédio em que ele está inserido: de arquitetura brutalista, o edifício foi projetado em 1973 com apartamentos em estruturas modulares caracterizadas pelas repetições dos arcos de concreto ao longo dos espaços. Bastante particular, esta composição evidencia os caixilhos que sobem do piso ao teto em boa parte da sala e criam uma nuance entre estrutura e paisagem – dois elementos impossíveis de serem esquecidos na hora de se projetar os interiores.
A unidade havia passado anteriormente por uma reforma e todo o apartamento havia sido rebaixado com forro de gesso, o qual escondeu os arcos da estrutura. Nesta mesma linha, 80% dos caixilhos (piso-teto) também haviam sido tampados com gesso – os vidros fixos superiores e inferiores foram escondidos, permanecendo aparente apenas o vidro que abre como entrada de luz.
Com a definição da estética a ser buscada, o próximo passo seria adaptar os cômodos – na planta original eram apenas duas suítes, que foram transformadas em três, ampliando a suíte master, com banho senhor e senhora – e também estruturar as instalações de acordo com as necessidades da vida moderna. As tubulações de climatização, automação e iluminação fizeram com que fosse necessário manter um mínimo possível de forro de gesso em algumas áreas. Com isso, conseguiu-se manter a laje exposta na maior parte da suíte máster e na área social, onde os caixilhos são inteiriços piso-teto.
Na discussão dos termos do projeto, o casal informou que pretenderia receber e cozinhar para os amigos em finais de semana, situação que pressupunha integração da sala de jantar com a sala de estar. Esta integração não poderia ser absoluta, no entanto, pelo fato de o casal possuir dois filhos e duas funcionárias durante os dias da semana.
Com base nessas informações, foi projetada uma bancada com fogão que possui várias funções e que é considerada o “coração da casa”: serve ela como ponto para reunião com os amigos nos finais de semana e onde todos fazem suas refeições nos dias úteis. O uso é absolutamente orgânico.
Outra recomendação importante era que a sala íntima pudesse ser isolada da área social para uso independente caso as crianças viessem a ter programação distinta dos adultos – ou mesmo por conta de simples isolamento acústico em sessões de televisão. Essa questão foi resolvida com a instalação de portas de correr que se embutem na marcenaria da caixa do hall, que mantêm o isolamento a depender da vontade dos moradores nas situações em que a compartimentação de ambientes seja necessária.
Na decoração do apartamento, a dureza do concreto aparente foi suavizada por elementos da natureza. Com a remoção do gesso e o aparecimento dos caixilhos, as copas das árvores em volta do edifício passaram a ser vistas de dentro da sala de estar. Em paralelo, a grande jardineira existente na inteira extensão da fachada principal permitiu a elaboração de um jardim praticamente dentro do apartamento. No interior, tons de verde, madeira natural e palha se juntaram para aquecer o concreto e trazer o externo para mais perto. As paredes brancas acrescentaram plasticidade à paleta de cores e dão ar de galeria de arte ao receberem a coleção de quadros dos proprietários.
O apartamento é uma homenagem ao Brasil, à sua natureza e à sua produção arquitetônica. É um flerte suave entre a Tropicália e o Brutalismo – dois movimentos que há tempos deram certo.